AMIG@S DA CRÍTICA MARXISTA
Este BLOG - criado por socialistas comprometidos com o trabalho editorial de CRÍTICA MARXISTA - visa contribuir para que todos os colaboradores e simpatizantes dessa revista possam intervir direta e efetivamente na discussão de sua crise e da renovação de seu projeto teórico e político. De forma sintética, busca-se aqui responder à questão: "quais as características e o perfil de uma revista teórica marxista que esteja à altura dos desafios intelectuais e políticos postos pelo século XXI"?
"QUAL DEVE SER O PERFIL DE UMA REVISTA TEÓRICA MARXISTA NO SÉCULO XXI?"
Colaboradores e simpatizantes da revista opinam nesta seção.
Para um debate criativo e fecundo no campo das esquerdas e, em particular da teoria marxista, que floresçam todas as perspectivas políticas e teóricas.
Neste blog, ninguém - no campo da esquerda socialista - será excluido do debate
Michael LÖWY "Na minha opinião, uma revista teórica marxista para a nossa época deveria necessariamente ser uma revista pluralista, aberta para a diversidade de interpretações do marxismo e para a discussão com correntes radicais não marxistas. Deveria também associar uma dimensão historica - discussão dos autores classicos, ediçâo de textos pouco conhecidos ou inéditos no Brasil - com a abordagem de questõe atuais, problemas do marxismo no século 21, com especial interesse pelo Brasil e pela América Latina".
Adriano CODATO "A pergunta proposta sugere ao menos três dificuldades a serem enfrentadas por um periódico autonomeado “marxista”: 1) o lugar e a função do conhecimento teórico nessa tradição; 2) o papel político e cultural dos intelectuais marxistas na conjuntura presente; e 3) a serventia de uma revista universitária que pretende difundir o marxismo (também, ou principalmente, em função de sua audiência) como teoria social. Como um meio para refletir sobre e fazer avançar o marxismo teórico, a publicação não pode deixar de buscar, selecionar e editar artigos que pretendam reinterpretar os textos clássicos dos clássicos do marxismo. Mas esse trabalho exegético só terá sentido se mais adiante os achados aí presentes resultarem em conceitos de médio alcance, noções operatórias, estratégias analíticas para serem utilizados numa ciência social empírica. Esse é, a meu ver, a principal contribuição política e cultural que os intelectuais marxistas podem dar na conjuntura presente. Nesse sentido, estamos bem longe da busca do marxismo puro e duro ou do “verdadeiro Marx”. Essa miragem filosofante foi responsável por parir, no século XX, tantos marxismos quantos analistas disponíveis. As ideologias teóricas que surgiram daí, cujo efeito foi encerrar a discussão e não permiti-la, criaram uma série de campos de força que dividiram artificialmente as ciências sociais em “Sociologia burguesa” e Teoria Marxista. O prejuízo contabilizado por essa separação bizantina, que parece ter mais a ver com as vantagens simbólicas que cada partido teórico retirou (e retira) dessa luta ideológica, implicou o isolamento provinciano de ambas as partes – e ele foi, penso eu, muito mais prejudicial ao marxismo acadêmico. A redescoberta do pensamento de Marx nos últimos anos em alguns círculos intelectuais e sua nova popularidade (novos periódicos, novas traduções, vários encontros científicos, reedições de textos, etc.) parece, todavia, refletir e repetir os mesmos defeitos. Seja como convicção partidária, seja como ideologia universitária, supõe-se, em geral, que os textos clássicos dos clássicos do marxismo (Marx, Engels, Lênin, Gramsci) já fornecem uma teoria auto-suficiente da sociedade. Ora, uma revista como Crítica Marxista será tanto mais relevante - em termos políticos e culturais – se ela conseguir apresentar justificações críveis para tomar o pensamento de Marx como uma “ciência social”. E isso em dois sentidos: (i) como um tipo de conhecimento sociológico, e não apenas como uma teoria normativa e/ou uma visão social de mundo; e (ii) como um gênero interpretativo, que consiste em conectar as ações e instituições políticas à sua dimensão social (combatendo, nesse sentido, o politicismo das análises da corrente dominante). Essa postura implica assim uma compreensão diferente dos textos de Marx, mais interessada nas suas operações analíticas do que na monumental parafernália teórica sobre a qual elas se apóiam. São essas operações analíticas que podem ajudar a formular estratégias intelectuais para conectar microevidências à macroteoria e propor conceitos de médio alcance para colaborar na pesquisa social".
Sérgio BRAGA "Se eu entendi bem, concordo com a posição do prof. Adriano Codato em sua postagem acima, que se assemelha bastante à dos althuserrianos em sua primeira fase de elaboração teórica (Althusser, Poulantzas, Balibar etc.), entre outras correntes marxistas. Ou seja: uma revista teórica marxista não deve ter a pretensão de substituir os partidos políticos e movimentos sociais, e elaborar apenas um discurso normativo sobre a sociedade capitalista mas, sim, procurar produzir trabalhos teóricos e científicos que tenham uma certa autonomia em relação às oscilações da conjuntura política. Portanto, deve evitar uma posição dogmática e adotar como linha editorial o pluralismo socialista, que admite inclusive o diálogo sistemático com produções teóricas relevantes produzidas no ambiente acadêmico burguês, e não apenas uma eterna exegese/comentário de textos clássicos do marxismo, como se estes pudessem desvendar o segredo oculto da realidade presente (o famoso "Capítulo Inédito..."). Do ponto de vista da gestão, a meu ver deve-se fazer um esforço para evitar com que seja controlada por grupelhos doutrinários e auto-referidos e abrir espaços para manifestações das bases e perspectivas divergentes, com uma participação mais ativa dos colaboradores na gestão e linha editorial, na medida do possível. Seria recomendável, também, que os autores fizessem um esforço para comunicar suas idéias num vernáculo simples e acessível ao leitor médio, pois os leitores potenciais de uma revista marxista vão além da classe média universitária. Talvez um bom exemplo fosse a antiga revista Civilização Brasileira, do finado Ênio Silveira, que produzia artigos teóricos e políticos de relevância e era ao mesmo tempo agradável de ler, sem o estilo doutrinário e burocrático de tantos marxistas acacianos que andam por aí".
Duarte PEREIRA "No Brasil, e na difícil conjuntura atual, uma revista marxista deve ser, em primeiro lugar, antidogmática, combatendo a autocomplacência e a estagnação teórica das tradições isoladas em que o marxismo se segmentou, e buscando persistentemente o entendimento do capitalismo contemporâneo e da reversão da maioria das experiências socialistas do século passado. Sendo antidogmática, não pode contentar-se com a exegese interminável de textos consagrados do marxismo, devendo empenhar-se na pesquisa empírica, na análise concreta e na interpretação sintetizadora e crítica do país em que está inserida. Por último, deve preocupar-se seriamente com o risco do marxismo acadêmico e da desconexão entre a intelectualidade marxista e os trabalhadores combativos. Não pode ser feita somente por acadêmicos para um público acadêmico. Sem perder o rigor conceitual, deve esforçar-se para ser acessível, buscar leitores engajados e contar com a participação efetiva de quadros militantes e intelectuais marxistas sem títulos e currículos acadêmicos, mas com experiência prática e capacidade de elaboração teórica e política".
Mário MAESTRI "Não necessitamos de uma revista teórica marxista − mas de muitas. Revistas variadas, diversas, que intervenham nas diversas esferas da vida social, no processo de dissolução do encantamento das percepções, imprescindível à necessária superação das contradições sociais. Nas suas esferas de intervenção, revistas ferreamente pautadas pelas exigências da luta de classe. Há anos, projeto perseguido com tenacidade e brilhantismo pela revista Crítica Marxista".
Iná CAMARGO "Para ser boa, uma revista teórica marxista precisa dar o máximo espaço à dialética. E prestar atenção ao que está acontecendo agora no mundo inteiro: tem revolução à vista!"
Heloisa FERNANDES "Para estar à altura dos desafios colocados à luta de classes e aos movimentos populares da nossa época, uma revista teórica marxista precisa ser aberta, democrática e plural; deve preservar criticamente a sua herança teórica e política mantendo o melhor do seu fermento criativo e inovador; qual fênix, precisa renascer das cinzas sempre que os arautos da paz dos cemitérios proclamam a morte da História ou a verdade de um único caminho.A luta continua em todas as frentes e todos os fronts! Sorte e virtú, eis como vejo essa tão corajosa e lúcida iniciativa dos cinco intelectuais marxistas que criaram este blog".
Anita PRESTES "Na minha opinião uma revista teórica marxista deve ser um instrumento que contribua não apenas para o conhecimento da realidade capitalista em que vivemos como também para sua transformação, conforme sempre defenderam os clássicos do marxismo".
Muniz FERREIRA "Uma revista marxista capaz de atender as exigências do século XXI, a meu ver, deverá ser: Ampla o bastante para comportar os mais variados aspectos e momentos da reflexão marxista pretérita e presente, possibilitando a avaliação e a apropriação dos elementos mais penetrantes e férteis desta rica tradição. Contemporânea de modo a combinar o resgate de elementos teóricos e metodológicos acumulados historicamente com a interpretação radical dos problemas do mundo atual. Plural o suficiente para compreender as diversas vertentes do(s) marxismo(s), balizando a interação entre elas pelos princípios dialéticos da luta do novo contra o velho, dos avanços através do desenrolar das contradições, da transformação da quantidade em qualidade e da superação/conservação. Em outras palavras, capaz de reconhecer que é através da confrontação de idéias e concepções que se produzem os avanços quantitativos e os saltos qualitativos na reflexão humana. Unitária tendo por base a afirmação marxiana segundo a qual: “os filósofos até aqui não fizeram mais do que interpretar o mundo de diferentes maneiras, cabe transformá-lo”; ou seja, a plataforma comum da revista deve ser o compromisso de interpretar o mundo para contribuir para a sua transformação".
Paulo ARANTES "Para ser franco, não vejo muito interesse numa revista teórica marxista hoje. O relativo conforto oferecido pelo argumento de que a verdadeira prática é a teoria, caducou faz tempo. Tampouco faz muito sentido hoje declarar-se marxista, por exemplo, na capa de uma publicação. A rigor, é uma confissão de que não se tem mais nada a dizer, salvo declarar-se marxista. Quanto ao perfil de uma revista de esquerda para o novo século, são outros quinhentos."
Leda PAULANI "Acredito que, para além de sua função estritamente acadêmica, a existência de uma revista teórica marxista só tem sentido se: 1) contribuir para uma melhor compreensão da natureza do capitalismo contemporâneo; e 2) refletir sobre e discutir as possibilidades que existem (ou não) de um futuro socialista".
Patrícia TRÓPIA "Uma revista marxista voltada para o tempo presente deve publicar matérias basicamente de duas naturezas: a) textos que, de uma perspectiva materialista, analisem criticamente as teorias e as interpretações não-marxistas que sejam relevantes ou influentes no atual debate das ideias e b) textos que, fundamentados nas diferentes correntes do marxismo, permitam o conhecimento rigoroso do capitalismo atual (sua natureza, dinâmica, crises) e que, por meio de sua crítica, forneçam bases para a militância comprometida com a luta pelo socialismo. Particularmente, interessam-me textos que analisem as diferentes conjunturas a partir da problemática das classes sociais. Hoje, com os meios e possibilidades de difusão do conhecimento abertos pela Internet, entendo que esta publicação deve ser uma revista eletrônica, pública, gratuita, não-dogmática e que seja acessível aos leitores não acadêmicos. Ademais, deve ser uma revista editada por estudiosos marxistas (acadêmicos e não acadêmicos) que se pautem por métodos e critérios rigorosamente democráticos".
Maria Orlanda PINASSI "Diante das urgências do mundo contemporâneo, a linha editorial de uma revista teórica marxista não pode ser nem refém do conceito, nem presa do fenômeno, mas deve abrir espaço para todas as contribuições teóricas que se comprometam a compreender e a transformar, de modo radical, a realidade social existente."
Isabel LOUREIRO "Uma revista de esquerda não precisa necessariamente ser marxista. O importante é fazer boas análises do mundo contemporâneo e apontar uma alternativa socialista para o beco sem saída do presente. Para isso, três temas são fundamentais: desmercantilização de todas as dimensões da vida; democracia ampla, geral e irrestrita; questão ecológica. No que se refere à última questão, os teóricos marxistas demoraram a levá-la em consideração. Lembremos o artigo de François Chesnais e Claude Serfati na CM no 16. Para que o marxismo escape do dogmatismo em que na maior parte das vezes os autodenominados marxistas o encerram (achando que basta dizer-se marxista para estar de posse da verdade), ele precisa necessariamente do diálogo com correntes de esquerda não-marxistas. Dou como exemplo de publicação de esquerda viva, criativa, diversificada o site http://www.passapalavra.info/"
Caio N. de TOLEDO "A consolidação e o fortalecimento do trabalho editorial de CM – publicação que hoje desempenha um papel relevante na cultura política de esquerda no Brasil – impõem que práticas sejam revistas e mudanças sejam feitas. Em certa medida, as propostas abaixo foram suscitadas pelo esclarecedor debate em torno da crise interna que ainda está em curso. Têm um caráter autocrítico, pois além de estar, nestes 16 anos, envolvido com o trabalho editorial da revista, sou um de seus fundadores. 1) Relação Comitê/Conselho editorial: a questão da democracia interna. Na medida em que a revista não é uma propriedade intelectual daqueles que circunstancialmente atuam em sua Editoria, devem ser criados mecanismos que permitam uma efetiva participação de seu Conselho editorial na produção da revista. Na presente crise, a quase totalidade do Conselho afirmou que não deseja continuar a desempenhar um papel apenas simbólico ou coadjuvante na vida da revista. Neste sentido, o Estatuto vigente mostrou-se superado, pois – subestimando o qualificado Conselho editorial – concede a ele um caráter meramente consultivo. A desatinada decisão de 18/12/2010 não teria ocorrido caso o Conselho editorial tivesse voz ativa no trabalho editorial, pois parcela do Comitê editorial se comportou como se fosse uma direção partidária autocrática que decide sem ouvir suas bases; 2) Pluralismo: na medida do possível, o comitê editorial deveria refletir o pluralismo existente no campo teórico-ideólogico do marxismo; 3) Projeto editorial: sem deixar de privilegiar a problemática teórica em seu trabalho editorial, CM deve: (a) de forma sistemática, discutir questões de ordem conjuntural sob pena de se tornar irrelevante para todos que concebem que a teoria marxista implica um compromisso crítico e revolucionário; (b) produzir matérias (artigos, debates, entrevistas etc.) que não visem apenas o público acadêmico. Sem abrir mão do rigor analítico, a revista, de forma permanente, deve alcançar a militância dos movimentos sociais de esquerda por meio de matérias que examinem os problemas colocados pelo quadro atual da luta de classe nos planos político e ideológico. (À guisa de exemplos, alguns temas que se imporiam: avaliação abrangente do governo Lula e dos governos democrático-populares da AL, a natureza e potencialidades dos movimentos sociais na AL, o “socialismo chinês”, as novas formas de lutas anti-imperialistas no mundo, o significado do racismo contemporâneo, a questão atual do feminismo, o caráter anticapitalista dos movimentos em defesa da ecologia etc.); 4) Dinâmica interna: utilizando-se criativamente dos recursos da internet – para as tarefas regulares de seu trabalho editorial e, inclusive, para a realização de reuniões do coletivo –, o comitê editorial de CM deveria ser composto por marxistas de diferentes regiões do país. Caso isso venha ocorrer, CM poderia, finalmente, se transformar efetivamente em uma publicação de âmbito nacional, pois desde sua fundação, a Editoria da revista está limitada apenas a residentes no sudeste do Brasil; 5) WEB: se quiser ter uma presença atuante, relevante e criativa na luta teórico-ideológica no Brasil contemporâneo, CM precisa estar na web. Revista impressa e revista virtual devem estar no horizonte do trabalho editorial de CM. Para concretizar tais objetivos e estar à altura desses desafios, o trabalho editorial de CM deve implicar mais profissionalismo, ser democrático e pluralista; em uma palavra, o trabalho de produção da revista deve se constituir em uma atividade teórico-política prioritária da maioria do coletivo que a dirige, não em mais uma das ativas acadêmicas de seus editores".
Flávio de CASTRO "A atual conjuntura política nacional e internacional coloca um enorme número de questões para a análise marxista. Respeitando a diversidade existente em seu interior, todos os colegas comprometidos com o contínuo desenvolvimento dessa corrente teórica – necessária caso se pense em uma radical transformação da sociedade no sentido do socialismo e do comunismo, e independentemente do fato de estarem ou não vinculados à universidade – manifestam o desejo de participarem ativamente desse estimulante debate. Mas como situar o impasse da revista no contexto mais amplo da atual conjuntura política e teórica? No sentido de contribuir para a discussão em curso na revista me permitiria aqui estabelecer algumas relações com o Cemarx do IFCH/Unicamp, entidade que sempre teve fortes ligações com CM. Em todo coletivo científico há divergências de opinião sobre os encaminhamentos das questões que são extremamente salutares. No Cemarx esta prática vem desde sua criação. Igualmente, são discutidas e votadas as propostas apresentadas. Nunca houve cerceamento de nenhuma posição, fosse ela qual fosse. No entanto, há um número reduzidíssimo de pessoas que determina o destino do Centro. Ocorre que, embora todos tenham direito ao voto, os professores em atividade têm forte ascendência sobre este coletivo no qual a maioria de seus membros é orientada por esses docentes. É, obviamente, no mínimo constrangedor confrontar-se com seus pares. Portanto, basta a opinião de uma única pessoa, portadora daqueles atributos, para influenciar decisivamente qualquer encaminhamento. O próprio estatuto do Cemarx ao definir que sua direção só poderá ser exercida por um professor do IFCH, já limita e reforça esta situação. Lamentavelmente, no caso do Cemarx, a atual direção do Centro está demissionária desde o final de 2009 e não surgiu nenhum outro candidato para sua substituição. O que fazer, então? Não nos parece haver outra saída senão diluir esta concentração de poderes para restabelecer o confronto de idéias no interior daquele centro de pesquisas. Principalmente, é necessário atrair mais participantes de outros institutos, de outras instituições de ensino superior e de pesquisa, e dos movimentos sociais externos à Universidade, tais como sindicalistas, sem-terra, sem-teto etc. Vamos à CM: nesta a concentração de poderes ocorreu de forma semelhante ao Cemarx onde é seu Comitê Editorial – composto, entre outros por alguns membros-fundadores – que determina seu perfil e toma as decisões que entende necessárias para a manutenção e sobrevivência da revista. E de novo, os votos dos mais antigos influenciam os resultados das escolhas. Sejam elas para determinar seu caráter mais ou menos acadêmico, indicar pessoas para o Comitê ou para o Conselho, e mesmo excluir membros da revista. Assim, novamente, os votos acabam tendo pesos diferentes. A carreira acadêmica, construída com todos os esforços e méritos ao longo de décadas, volta a pesar nas decisões. E de novo o constrangimento entre seus pares, fato que é inaceitável em uma revista marxista! Se isso está correto, trata-se também de pensarmos em como garantir a democracia no interior de coletivos que se reivindicam marxistas, sob pena de estarmos reforçando o conhecido ditado: “na prática, a teoria é outra”. E isso no pior sentido da expressão: estaríamos estabelecendo uma hierarquia meritocrática e burocrática, deixando completamente de lado uma das principais teses apresentados já pelo próprio Marx : a luta contra a divisão entre o trabalho manual e intelectual. Em suma, uma revista teórica marxista, à altura dos desafios presentes, deveria dedicar especial atenção a um funcionamento interno verdadeiramente democrático e não autocrático".
Jorge NOVOA "Uma revista socialista deve ser referida a Marx, mas não precisa ser marxista. O que se exige é que façam análises sólidas do mundo em crise estrutural e de suas conjunturas e que conectem suas análises a uma alternativa socialista como saída para a barbárie que se dissemina a cada dia. O título da Revista deve ser atraente, bonito se possível. Não creio que valha a pena colocar hoje a etiqueta Marxista no título de uma publicação. Isto, sobretudo, se a Revista quer atingir novos leitores e não só a um público acadêmico. Os “marxistas” são hoje uma um amálgam mal definido no qual misturam suas infinitas facções num caleidoscópio em que todas as cores são pardas! Para as jovens gerações o esforço gigantesco que se possa fazer para explicar o fenômeno do maoísmo, do estalinismo, do castrismo, do polpotismo, do Kadafismo, e do Bolivarismo, etc., e de seus respectivos “marxismos” - muito além de suas relações com as monstruosidades históricas que pesam como toneladas na subjetividade dos trabalhadores do mundo distanciando-os subjetivamente do socialismo - torna realmente contraproducentes a fixação dessa etiqueta MARXISTA. Ela bode dar “boa consciência” aos seus adeptos, mas não significa nenhum ganho científico ou político pré-estabelecido. Nem todos os artigos de Marx tiveram a mesma acuidade e competência para deter e explicar os fenômenos e cada uma de nossas produções correrá sempre os riscos inerentes à atividade de produzir conhecimento. Se a referência a Marx é fundamental que a Revista seja denominada A partir de Marx, Com Marx, A favor de Marx, por exemplo. A inflexão “tática” deixa de ser fetichista e torna-se mais aglutinadora e pedagógica. A tensão entre teoria e prática, exige que a Revista tenha uma utilidade social maior que aquela de satisfazer a “curiosidade” e as inquietações daqueles que a produzem e do seu círculo de leitores. Neste caso é preciso pensar se a extensão da utilidade social que se quer atingir não exigiria algo como, Para a crítica da crise, Contra a CRISE, Crítica Anti-Capitalista, ou Crítica Social. As duas inflexões partem do pressuposto democrático de que ninguém detém a propriedade da verdade absoluta e permite, não somente a participação de pesquisadores ou pensadores referidos à Marx, mas de outros que não realizaram esse percurso crítico à exaustão, mas que realizam pesquisas e produzem conhecimento crítico do mundo fetichista, assim mesmo. Uma das principais virtudes de Marx foi ser capaz de “aprender”, inclusive com seus “inimigos”. Este deve ser um critério muito importante para ser aplicado por “pareceristas”. Precisamos reler os clássicos. Mas esse esforço só será consequente se novos conceitos surjam e sejam capazes de apreender fenômenos novos da sociedade em crise ou de sua gênese histórica, ajudando a todos no trabalho de aglutinação e disseminação, ainda que localizadamente nos setores avançados, dessa ciência crítica. Sem dúvida, nem Marx, nem os “clássicos” explicaram todos os fenômenos da modernidade capitalista, nem da história anterior, nem suas teorias adquiriram forma acabada. Nesse sentido persiste uma confusão entre doutrina e ciência social. Marx não foi um arauto de uma doutrina. A ciência criada por Marx por ser de uma crítica totalizante, ultrapassa inclusive o horizonte social, incorporando as questões da natureza e do universo, sem renunciar em momento algum à sua dimensão ética e estética. A doutrina, portanto, não terá serventia para um novo projeto editorial. Não pode existir crítica social e natural consequente das condições atuais do mundo e de sua gênese sem liberdade absoluta de crítica, ao mesmo tempo anti-manipulatória e anti-criticista. Sem dúvida a teoria é uma prática e sua competência se acha indissociável de sua ética libertária. Trata-se aqui de uma questão inarredável e qualquer tentativa de buscar as melhores tradições dos movimentos sociais que não consiga superar esta questão fundamental estará fadada ao fracasso! A democracia interna não pode ser formal. Precisa ser socialista, pois. O respeito à pluralidade partilha confiantemente a responsabilidade social com os agentes construtores da Revista. O princípio de eleição dos pares deve ser completado por uma sorte de revezamento o que evitaria o CARÁTER apenas CONSULTIVO do Conselho Editorial. A crítica ao capitalismo não tem quer se feita apenas por acadêmicos, nem por militantes. Estudiosos engajados pensam também e, não raro, muito bem. Felizmente qualidades de cognição e de exposição se acham estendidas pela natureza a setores sociais bem mais amplos. Tal procedimento acaba com uma estandardização entre Membros Editores, Conselho Editorial e de Base, e viabiliza a construção de uma Revista Nacional através de uma maior divisão de trabalho que se ampliará ainda mais com a sua transformação numa revista digital".
Luciano MARTORANO "A pergunta acima talvez pressuponha um debate franco e aberto sobre duas questões preliminares: a) "o que é teoria" e b) "o que é marxismo" ? Sem esse debate não se pode criar uma base mais sólida para um trabalho editorial mais profícuo, à altura dos desafios contemporâneos".
Claus GERMER "Não acho fácil a resposta a esta pergunta. Mas tenho alguns palpites. Primeiro, pensando academicamente, parece que quanto mais revistas marxistas houver, melhor. Mas e daí? ... Como seria uma revista teórica marxista, digamos, 'ideal'? Penso na 11ª tese sobre Feuerbach: "Os filósofos têm apenas interpretado omundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo". Transformar é uma atividade prática. Então traduzo isso como 'interpretarpara transformar', ou seja 'teorizar e praticar'. Parece-me difícil pensarque se possa teorizar para a transformação sem praticar para a transformação. Mas a transformação é um conjunto de problemas práticos:organizar para a transformação, mas organizar quem? como? onde? quando? começar por quem, como, onde, quando? Portanto, teorizar não seria só teorizar sobre os problemas práticos, mas resolver os problemas práticos com base na boa teoria. Ou seja, para transformar é preciso já estararmado com a boa teoria. Mas qual é a boa teoria? O marxismo, ora bolas! Mas qual marxismo? Grande confusão: há muitos marxismos, até demais, o que significa que não há nenhum. Então parece que é o marxismo cuja teoria aponta para a transformação, não apenas teorica e retoricamente, mas praticamente. Convocar congressos para selecionar o 'melhor marxismo'? não funciona...Quando o marxismo estiver de fato ligado aos problemas práticos, a prática irá selecionar o marxismo que os resolve. A prática é indispensável para o próprio aprendizado da boa teoria, da que combina com a realidade prática.O resto talvez seja academicismo... Consequentemente, a boa teoria é a que resolve os problemas práticos com rigor teórico. A prática não é o critério da verdade? Daí só através da prática enriquece-se a teoria, uma vez que o conhecimento emana da atividade prática (outra das teses).Desligado da atividade prática, é só repetição, repetição, repetição ... Pesquisa empírica! Mas pesquisar empiricamente o que? onde o critério parao quê pesquisar? Novamente, depende do que a prática indica ser necessáriopara avançar. Então a pesquisa empírica também necessita da prática paraindicar o caminho, apontar o que é relevante. Discussão teórica não é discutir a teoria com a teoria, fazer exegese, darvoltas ao próprio umbigo, mas é discutir a teoria como instrumento pararesolver os problemas práticos da transformação. É a prática que indica quais são os problemas que exigem solução. Acho que é o que concluo da 11ªtese, salvo melhor juízo...Daí tenho a impressão de que uma revista teórica marxista que contribuanessa direção, isto é, que contribua para desenvolver uma teoria que sejaa expressão da verdade emanada da prática, da nossa prática, é uma boa,muito boa...Um bom começo seria colocar em discussão o que significa, neste momento, unir a teoria à atividade prática, à transformação, por que meios, etc.Por ora são estes os meus melhores palpites! Isto, creio, daria um impulsoà teoria, e talvez à própria atividade prática!"
Danilo MARTUSCELLI "Uma revista marxista deve fomentar uma relação orgânica entre Comitê e Conselho Editorial, constituindo em seu funcionamento o mandato imperativo e temporário dos membros do Comitê. Tal medida poderá fortalecer sua democracia interna e ser um forte instrumento de luta contra o princípio meritocrático que rege a maioria das revistas acadêmicas. Uma revista marxista deve priorizar a publicação de textos teóricos, não-dogmáticos e que estejam pautados pelo princípio leninista da "análise concreta da situação concreta", a alma viva do marxismo. Uma revista marxista deve dar abertura para a publicação de análises de conjuntura desde que estas não se confundam com o jornalismo vulgar e com as crônicas superficiais do cotidiano. Uma revista marxista deve abolir a seção resenhas que mais servem para fazer propaganda para o mercado editorial do que trazer à tona uma reflexão crítica sobre a obra resenhada. Nesse sentido, a seção Comentários ou Ensaios bibliográficos podem tornar-se um importante espaço para a discussão das obras recém-publicadas, desde que o autor faça ligações com o "estado da arte" da temática em questão. Isso significa que em vez de priorizar o mercado editorial ou o culto do autor que acabou de lançar um livro, a revista deve dar centralidade à discussão do tema abordado pelas obras recém-publicadas. Uma revista marxista deve publicar sistematicamente dossiês sobre as questões palpitantes de nosso tempo, convidando quatro ou mais colaboradores para discutir uma temática escolhida pelo Comitê após consulta ao Conselho. Uma revista marxista deve abrigar um espaço para cartas e réplicas aos textos publicados, fomentando, assim, o debate teórico e político entre os marxistas, inclusive as autocríticas. Uma revista marxista deve reivindicar o marxismo, seja no próprio título, seja nos documentos de fundação. Caso contrário, pode se transformar num mero instrumento de gozo intelectual e sem rumo político algum".
ALDO DURAN GIL "“Uma revista que pretenda se autonomear marxista deve, primeiramente, defender a sangue e fogo, na prática e na teoria, o programa socialista – isto é, (i) socialização dos meios de produção e (ii) destruição do Estado burguês. Bem entendido, a revista não pode substituir os partidos políticos revolucionários/socialistas e anti-capitalistas nem os movimentos populares que defendem o programa socialista. Deve, isto sim, buscar fornecer ou subsidiar teoricamente tais setores para possibilitar a realização desse programa. Em segundo lugar, não deve praticar a democracia burguesa, mas a democracia socialista. Defender a democracia burguesa é praticá-la, e praticá-la é justificar e legitimar a reprodução das relações de produção capitalistas que têm caráter classista, hierárquico, autoritário e despótico. No discurso, o democratismo burguês é hegemônico, inclusive na lábia dos autodenominados marxistas – que de forma oportunista num foro defendem ou gritam “democracia” e noutros foros praticam o contrário – isto é, o autoritarismo e despotismo; em termos correntes, essa prática pode ser designada com aquilo que denomino “coronelismo acadêmico”, uma variante do fetichismo do poder constitutivo da pequena burguesia e da classe média que monopoliza o aparelho estatal escolar/universitário. O monopólio da gestão de uma revista por parte de um grupo ou grupelho “iluminando” autonomeado e com privilégios é a conseqüência da prática da democracia burguesa. O que acaba por reproduzir as estruturas de poder na sociedade capitalista e, sobretudo, reproduzir o Estado burguês (especialmente o aparelho escolar\universitário etc.). Importa, pois, praticar a democracia socialista e destruir o Estado burguês. Em terceiro lugar, deve combater e buscar superar o produtivismo da esfera acadêmica universitária, constitutivo da ciência ou da prática científica no capitalismo; no atual caso brasileiro, o produtivismo acadêmico chegou a níveis absurdos e perversos. Prática essa imposta pelo capital e corroborada pela burocracia estatal (aparelho escolar\universitário, que inclui o conjunto de agência de fomento, como Capes, Cnpq etc.) comprometida com ele. A concorrência acirrada entre cientistas e filósofos por um “prato de lentilhas” (recursos econômicos, bolsas, quebra da dedicação exclusiva etc.), com o reforço da meritocracia, é a moeda corrente na lógica desse produtivismo. Ora, uma revista autonomeada marxista comprometida com a reprodução do produtivismo acadêmico capitalista (“produtivismo marxista”) não tem razão de ser, é uma flagrante contradição - não serve para os propósitos da construção de uma sociedade socialista. Por fim, uma revista autonomeada marxista deve fazer jus a seu próprio nome: combater a divisão social do trabalho capitalista; deve buscar a criação das condições de superação dessa divisão atacando principalmente aquilo que compete a uma revista marxista: a superação da divisão manual e intelectual do trabalho. Todavia, deve buscar compatibilizar teoria e prática, discurso marxista e prática marxista. Caso contrário, uma revista autonomeada marxista que não mantém minimamente esses quatro pontos ou perfis supramencionados, deveria abandonar sua pretensão marxista e passar a praticar uma crítica kantiana, hegeliana, liberal ou crítica religiosa".
Para um debate criativo e fecundo no campo das esquerdas e, em particular da teoria marxista, que floresçam todas as perspectivas políticas e teóricas.
Neste blog, ninguém - no campo da esquerda socialista - será excluido do debate
Michael LÖWY "Na minha opinião, uma revista teórica marxista para a nossa época deveria necessariamente ser uma revista pluralista, aberta para a diversidade de interpretações do marxismo e para a discussão com correntes radicais não marxistas. Deveria também associar uma dimensão historica - discussão dos autores classicos, ediçâo de textos pouco conhecidos ou inéditos no Brasil - com a abordagem de questõe atuais, problemas do marxismo no século 21, com especial interesse pelo Brasil e pela América Latina".
Adriano CODATO "A pergunta proposta sugere ao menos três dificuldades a serem enfrentadas por um periódico autonomeado “marxista”: 1) o lugar e a função do conhecimento teórico nessa tradição; 2) o papel político e cultural dos intelectuais marxistas na conjuntura presente; e 3) a serventia de uma revista universitária que pretende difundir o marxismo (também, ou principalmente, em função de sua audiência) como teoria social. Como um meio para refletir sobre e fazer avançar o marxismo teórico, a publicação não pode deixar de buscar, selecionar e editar artigos que pretendam reinterpretar os textos clássicos dos clássicos do marxismo. Mas esse trabalho exegético só terá sentido se mais adiante os achados aí presentes resultarem em conceitos de médio alcance, noções operatórias, estratégias analíticas para serem utilizados numa ciência social empírica. Esse é, a meu ver, a principal contribuição política e cultural que os intelectuais marxistas podem dar na conjuntura presente. Nesse sentido, estamos bem longe da busca do marxismo puro e duro ou do “verdadeiro Marx”. Essa miragem filosofante foi responsável por parir, no século XX, tantos marxismos quantos analistas disponíveis. As ideologias teóricas que surgiram daí, cujo efeito foi encerrar a discussão e não permiti-la, criaram uma série de campos de força que dividiram artificialmente as ciências sociais em “Sociologia burguesa” e Teoria Marxista. O prejuízo contabilizado por essa separação bizantina, que parece ter mais a ver com as vantagens simbólicas que cada partido teórico retirou (e retira) dessa luta ideológica, implicou o isolamento provinciano de ambas as partes – e ele foi, penso eu, muito mais prejudicial ao marxismo acadêmico. A redescoberta do pensamento de Marx nos últimos anos em alguns círculos intelectuais e sua nova popularidade (novos periódicos, novas traduções, vários encontros científicos, reedições de textos, etc.) parece, todavia, refletir e repetir os mesmos defeitos. Seja como convicção partidária, seja como ideologia universitária, supõe-se, em geral, que os textos clássicos dos clássicos do marxismo (Marx, Engels, Lênin, Gramsci) já fornecem uma teoria auto-suficiente da sociedade. Ora, uma revista como Crítica Marxista será tanto mais relevante - em termos políticos e culturais – se ela conseguir apresentar justificações críveis para tomar o pensamento de Marx como uma “ciência social”. E isso em dois sentidos: (i) como um tipo de conhecimento sociológico, e não apenas como uma teoria normativa e/ou uma visão social de mundo; e (ii) como um gênero interpretativo, que consiste em conectar as ações e instituições políticas à sua dimensão social (combatendo, nesse sentido, o politicismo das análises da corrente dominante). Essa postura implica assim uma compreensão diferente dos textos de Marx, mais interessada nas suas operações analíticas do que na monumental parafernália teórica sobre a qual elas se apóiam. São essas operações analíticas que podem ajudar a formular estratégias intelectuais para conectar microevidências à macroteoria e propor conceitos de médio alcance para colaborar na pesquisa social".
Sérgio BRAGA "Se eu entendi bem, concordo com a posição do prof. Adriano Codato em sua postagem acima, que se assemelha bastante à dos althuserrianos em sua primeira fase de elaboração teórica (Althusser, Poulantzas, Balibar etc.), entre outras correntes marxistas. Ou seja: uma revista teórica marxista não deve ter a pretensão de substituir os partidos políticos e movimentos sociais, e elaborar apenas um discurso normativo sobre a sociedade capitalista mas, sim, procurar produzir trabalhos teóricos e científicos que tenham uma certa autonomia em relação às oscilações da conjuntura política. Portanto, deve evitar uma posição dogmática e adotar como linha editorial o pluralismo socialista, que admite inclusive o diálogo sistemático com produções teóricas relevantes produzidas no ambiente acadêmico burguês, e não apenas uma eterna exegese/comentário de textos clássicos do marxismo, como se estes pudessem desvendar o segredo oculto da realidade presente (o famoso "Capítulo Inédito..."). Do ponto de vista da gestão, a meu ver deve-se fazer um esforço para evitar com que seja controlada por grupelhos doutrinários e auto-referidos e abrir espaços para manifestações das bases e perspectivas divergentes, com uma participação mais ativa dos colaboradores na gestão e linha editorial, na medida do possível. Seria recomendável, também, que os autores fizessem um esforço para comunicar suas idéias num vernáculo simples e acessível ao leitor médio, pois os leitores potenciais de uma revista marxista vão além da classe média universitária. Talvez um bom exemplo fosse a antiga revista Civilização Brasileira, do finado Ênio Silveira, que produzia artigos teóricos e políticos de relevância e era ao mesmo tempo agradável de ler, sem o estilo doutrinário e burocrático de tantos marxistas acacianos que andam por aí".
Duarte PEREIRA "No Brasil, e na difícil conjuntura atual, uma revista marxista deve ser, em primeiro lugar, antidogmática, combatendo a autocomplacência e a estagnação teórica das tradições isoladas em que o marxismo se segmentou, e buscando persistentemente o entendimento do capitalismo contemporâneo e da reversão da maioria das experiências socialistas do século passado. Sendo antidogmática, não pode contentar-se com a exegese interminável de textos consagrados do marxismo, devendo empenhar-se na pesquisa empírica, na análise concreta e na interpretação sintetizadora e crítica do país em que está inserida. Por último, deve preocupar-se seriamente com o risco do marxismo acadêmico e da desconexão entre a intelectualidade marxista e os trabalhadores combativos. Não pode ser feita somente por acadêmicos para um público acadêmico. Sem perder o rigor conceitual, deve esforçar-se para ser acessível, buscar leitores engajados e contar com a participação efetiva de quadros militantes e intelectuais marxistas sem títulos e currículos acadêmicos, mas com experiência prática e capacidade de elaboração teórica e política".
Mário MAESTRI "Não necessitamos de uma revista teórica marxista − mas de muitas. Revistas variadas, diversas, que intervenham nas diversas esferas da vida social, no processo de dissolução do encantamento das percepções, imprescindível à necessária superação das contradições sociais. Nas suas esferas de intervenção, revistas ferreamente pautadas pelas exigências da luta de classe. Há anos, projeto perseguido com tenacidade e brilhantismo pela revista Crítica Marxista".
Iná CAMARGO "Para ser boa, uma revista teórica marxista precisa dar o máximo espaço à dialética. E prestar atenção ao que está acontecendo agora no mundo inteiro: tem revolução à vista!"
Heloisa FERNANDES "Para estar à altura dos desafios colocados à luta de classes e aos movimentos populares da nossa época, uma revista teórica marxista precisa ser aberta, democrática e plural; deve preservar criticamente a sua herança teórica e política mantendo o melhor do seu fermento criativo e inovador; qual fênix, precisa renascer das cinzas sempre que os arautos da paz dos cemitérios proclamam a morte da História ou a verdade de um único caminho.A luta continua em todas as frentes e todos os fronts! Sorte e virtú, eis como vejo essa tão corajosa e lúcida iniciativa dos cinco intelectuais marxistas que criaram este blog".
Anita PRESTES "Na minha opinião uma revista teórica marxista deve ser um instrumento que contribua não apenas para o conhecimento da realidade capitalista em que vivemos como também para sua transformação, conforme sempre defenderam os clássicos do marxismo".
Muniz FERREIRA "Uma revista marxista capaz de atender as exigências do século XXI, a meu ver, deverá ser: Ampla o bastante para comportar os mais variados aspectos e momentos da reflexão marxista pretérita e presente, possibilitando a avaliação e a apropriação dos elementos mais penetrantes e férteis desta rica tradição. Contemporânea de modo a combinar o resgate de elementos teóricos e metodológicos acumulados historicamente com a interpretação radical dos problemas do mundo atual. Plural o suficiente para compreender as diversas vertentes do(s) marxismo(s), balizando a interação entre elas pelos princípios dialéticos da luta do novo contra o velho, dos avanços através do desenrolar das contradições, da transformação da quantidade em qualidade e da superação/conservação. Em outras palavras, capaz de reconhecer que é através da confrontação de idéias e concepções que se produzem os avanços quantitativos e os saltos qualitativos na reflexão humana. Unitária tendo por base a afirmação marxiana segundo a qual: “os filósofos até aqui não fizeram mais do que interpretar o mundo de diferentes maneiras, cabe transformá-lo”; ou seja, a plataforma comum da revista deve ser o compromisso de interpretar o mundo para contribuir para a sua transformação".
Paulo ARANTES "Para ser franco, não vejo muito interesse numa revista teórica marxista hoje. O relativo conforto oferecido pelo argumento de que a verdadeira prática é a teoria, caducou faz tempo. Tampouco faz muito sentido hoje declarar-se marxista, por exemplo, na capa de uma publicação. A rigor, é uma confissão de que não se tem mais nada a dizer, salvo declarar-se marxista. Quanto ao perfil de uma revista de esquerda para o novo século, são outros quinhentos."
Leda PAULANI "Acredito que, para além de sua função estritamente acadêmica, a existência de uma revista teórica marxista só tem sentido se: 1) contribuir para uma melhor compreensão da natureza do capitalismo contemporâneo; e 2) refletir sobre e discutir as possibilidades que existem (ou não) de um futuro socialista".
Patrícia TRÓPIA "Uma revista marxista voltada para o tempo presente deve publicar matérias basicamente de duas naturezas: a) textos que, de uma perspectiva materialista, analisem criticamente as teorias e as interpretações não-marxistas que sejam relevantes ou influentes no atual debate das ideias e b) textos que, fundamentados nas diferentes correntes do marxismo, permitam o conhecimento rigoroso do capitalismo atual (sua natureza, dinâmica, crises) e que, por meio de sua crítica, forneçam bases para a militância comprometida com a luta pelo socialismo. Particularmente, interessam-me textos que analisem as diferentes conjunturas a partir da problemática das classes sociais. Hoje, com os meios e possibilidades de difusão do conhecimento abertos pela Internet, entendo que esta publicação deve ser uma revista eletrônica, pública, gratuita, não-dogmática e que seja acessível aos leitores não acadêmicos. Ademais, deve ser uma revista editada por estudiosos marxistas (acadêmicos e não acadêmicos) que se pautem por métodos e critérios rigorosamente democráticos".
Maria Orlanda PINASSI "Diante das urgências do mundo contemporâneo, a linha editorial de uma revista teórica marxista não pode ser nem refém do conceito, nem presa do fenômeno, mas deve abrir espaço para todas as contribuições teóricas que se comprometam a compreender e a transformar, de modo radical, a realidade social existente."
Isabel LOUREIRO "Uma revista de esquerda não precisa necessariamente ser marxista. O importante é fazer boas análises do mundo contemporâneo e apontar uma alternativa socialista para o beco sem saída do presente. Para isso, três temas são fundamentais: desmercantilização de todas as dimensões da vida; democracia ampla, geral e irrestrita; questão ecológica. No que se refere à última questão, os teóricos marxistas demoraram a levá-la em consideração. Lembremos o artigo de François Chesnais e Claude Serfati na CM no 16. Para que o marxismo escape do dogmatismo em que na maior parte das vezes os autodenominados marxistas o encerram (achando que basta dizer-se marxista para estar de posse da verdade), ele precisa necessariamente do diálogo com correntes de esquerda não-marxistas. Dou como exemplo de publicação de esquerda viva, criativa, diversificada o site http://www.passapalavra.info/"
Caio N. de TOLEDO "A consolidação e o fortalecimento do trabalho editorial de CM – publicação que hoje desempenha um papel relevante na cultura política de esquerda no Brasil – impõem que práticas sejam revistas e mudanças sejam feitas. Em certa medida, as propostas abaixo foram suscitadas pelo esclarecedor debate em torno da crise interna que ainda está em curso. Têm um caráter autocrítico, pois além de estar, nestes 16 anos, envolvido com o trabalho editorial da revista, sou um de seus fundadores. 1) Relação Comitê/Conselho editorial: a questão da democracia interna. Na medida em que a revista não é uma propriedade intelectual daqueles que circunstancialmente atuam em sua Editoria, devem ser criados mecanismos que permitam uma efetiva participação de seu Conselho editorial na produção da revista. Na presente crise, a quase totalidade do Conselho afirmou que não deseja continuar a desempenhar um papel apenas simbólico ou coadjuvante na vida da revista. Neste sentido, o Estatuto vigente mostrou-se superado, pois – subestimando o qualificado Conselho editorial – concede a ele um caráter meramente consultivo. A desatinada decisão de 18/12/2010 não teria ocorrido caso o Conselho editorial tivesse voz ativa no trabalho editorial, pois parcela do Comitê editorial se comportou como se fosse uma direção partidária autocrática que decide sem ouvir suas bases; 2) Pluralismo: na medida do possível, o comitê editorial deveria refletir o pluralismo existente no campo teórico-ideólogico do marxismo; 3) Projeto editorial: sem deixar de privilegiar a problemática teórica em seu trabalho editorial, CM deve: (a) de forma sistemática, discutir questões de ordem conjuntural sob pena de se tornar irrelevante para todos que concebem que a teoria marxista implica um compromisso crítico e revolucionário; (b) produzir matérias (artigos, debates, entrevistas etc.) que não visem apenas o público acadêmico. Sem abrir mão do rigor analítico, a revista, de forma permanente, deve alcançar a militância dos movimentos sociais de esquerda por meio de matérias que examinem os problemas colocados pelo quadro atual da luta de classe nos planos político e ideológico. (À guisa de exemplos, alguns temas que se imporiam: avaliação abrangente do governo Lula e dos governos democrático-populares da AL, a natureza e potencialidades dos movimentos sociais na AL, o “socialismo chinês”, as novas formas de lutas anti-imperialistas no mundo, o significado do racismo contemporâneo, a questão atual do feminismo, o caráter anticapitalista dos movimentos em defesa da ecologia etc.); 4) Dinâmica interna: utilizando-se criativamente dos recursos da internet – para as tarefas regulares de seu trabalho editorial e, inclusive, para a realização de reuniões do coletivo –, o comitê editorial de CM deveria ser composto por marxistas de diferentes regiões do país. Caso isso venha ocorrer, CM poderia, finalmente, se transformar efetivamente em uma publicação de âmbito nacional, pois desde sua fundação, a Editoria da revista está limitada apenas a residentes no sudeste do Brasil; 5) WEB: se quiser ter uma presença atuante, relevante e criativa na luta teórico-ideológica no Brasil contemporâneo, CM precisa estar na web. Revista impressa e revista virtual devem estar no horizonte do trabalho editorial de CM. Para concretizar tais objetivos e estar à altura desses desafios, o trabalho editorial de CM deve implicar mais profissionalismo, ser democrático e pluralista; em uma palavra, o trabalho de produção da revista deve se constituir em uma atividade teórico-política prioritária da maioria do coletivo que a dirige, não em mais uma das ativas acadêmicas de seus editores".
Flávio de CASTRO "A atual conjuntura política nacional e internacional coloca um enorme número de questões para a análise marxista. Respeitando a diversidade existente em seu interior, todos os colegas comprometidos com o contínuo desenvolvimento dessa corrente teórica – necessária caso se pense em uma radical transformação da sociedade no sentido do socialismo e do comunismo, e independentemente do fato de estarem ou não vinculados à universidade – manifestam o desejo de participarem ativamente desse estimulante debate. Mas como situar o impasse da revista no contexto mais amplo da atual conjuntura política e teórica? No sentido de contribuir para a discussão em curso na revista me permitiria aqui estabelecer algumas relações com o Cemarx do IFCH/Unicamp, entidade que sempre teve fortes ligações com CM. Em todo coletivo científico há divergências de opinião sobre os encaminhamentos das questões que são extremamente salutares. No Cemarx esta prática vem desde sua criação. Igualmente, são discutidas e votadas as propostas apresentadas. Nunca houve cerceamento de nenhuma posição, fosse ela qual fosse. No entanto, há um número reduzidíssimo de pessoas que determina o destino do Centro. Ocorre que, embora todos tenham direito ao voto, os professores em atividade têm forte ascendência sobre este coletivo no qual a maioria de seus membros é orientada por esses docentes. É, obviamente, no mínimo constrangedor confrontar-se com seus pares. Portanto, basta a opinião de uma única pessoa, portadora daqueles atributos, para influenciar decisivamente qualquer encaminhamento. O próprio estatuto do Cemarx ao definir que sua direção só poderá ser exercida por um professor do IFCH, já limita e reforça esta situação. Lamentavelmente, no caso do Cemarx, a atual direção do Centro está demissionária desde o final de 2009 e não surgiu nenhum outro candidato para sua substituição. O que fazer, então? Não nos parece haver outra saída senão diluir esta concentração de poderes para restabelecer o confronto de idéias no interior daquele centro de pesquisas. Principalmente, é necessário atrair mais participantes de outros institutos, de outras instituições de ensino superior e de pesquisa, e dos movimentos sociais externos à Universidade, tais como sindicalistas, sem-terra, sem-teto etc. Vamos à CM: nesta a concentração de poderes ocorreu de forma semelhante ao Cemarx onde é seu Comitê Editorial – composto, entre outros por alguns membros-fundadores – que determina seu perfil e toma as decisões que entende necessárias para a manutenção e sobrevivência da revista. E de novo, os votos dos mais antigos influenciam os resultados das escolhas. Sejam elas para determinar seu caráter mais ou menos acadêmico, indicar pessoas para o Comitê ou para o Conselho, e mesmo excluir membros da revista. Assim, novamente, os votos acabam tendo pesos diferentes. A carreira acadêmica, construída com todos os esforços e méritos ao longo de décadas, volta a pesar nas decisões. E de novo o constrangimento entre seus pares, fato que é inaceitável em uma revista marxista! Se isso está correto, trata-se também de pensarmos em como garantir a democracia no interior de coletivos que se reivindicam marxistas, sob pena de estarmos reforçando o conhecido ditado: “na prática, a teoria é outra”. E isso no pior sentido da expressão: estaríamos estabelecendo uma hierarquia meritocrática e burocrática, deixando completamente de lado uma das principais teses apresentados já pelo próprio Marx : a luta contra a divisão entre o trabalho manual e intelectual. Em suma, uma revista teórica marxista, à altura dos desafios presentes, deveria dedicar especial atenção a um funcionamento interno verdadeiramente democrático e não autocrático".
Jorge NOVOA "Uma revista socialista deve ser referida a Marx, mas não precisa ser marxista. O que se exige é que façam análises sólidas do mundo em crise estrutural e de suas conjunturas e que conectem suas análises a uma alternativa socialista como saída para a barbárie que se dissemina a cada dia. O título da Revista deve ser atraente, bonito se possível. Não creio que valha a pena colocar hoje a etiqueta Marxista no título de uma publicação. Isto, sobretudo, se a Revista quer atingir novos leitores e não só a um público acadêmico. Os “marxistas” são hoje uma um amálgam mal definido no qual misturam suas infinitas facções num caleidoscópio em que todas as cores são pardas! Para as jovens gerações o esforço gigantesco que se possa fazer para explicar o fenômeno do maoísmo, do estalinismo, do castrismo, do polpotismo, do Kadafismo, e do Bolivarismo, etc., e de seus respectivos “marxismos” - muito além de suas relações com as monstruosidades históricas que pesam como toneladas na subjetividade dos trabalhadores do mundo distanciando-os subjetivamente do socialismo - torna realmente contraproducentes a fixação dessa etiqueta MARXISTA. Ela bode dar “boa consciência” aos seus adeptos, mas não significa nenhum ganho científico ou político pré-estabelecido. Nem todos os artigos de Marx tiveram a mesma acuidade e competência para deter e explicar os fenômenos e cada uma de nossas produções correrá sempre os riscos inerentes à atividade de produzir conhecimento. Se a referência a Marx é fundamental que a Revista seja denominada A partir de Marx, Com Marx, A favor de Marx, por exemplo. A inflexão “tática” deixa de ser fetichista e torna-se mais aglutinadora e pedagógica. A tensão entre teoria e prática, exige que a Revista tenha uma utilidade social maior que aquela de satisfazer a “curiosidade” e as inquietações daqueles que a produzem e do seu círculo de leitores. Neste caso é preciso pensar se a extensão da utilidade social que se quer atingir não exigiria algo como, Para a crítica da crise, Contra a CRISE, Crítica Anti-Capitalista, ou Crítica Social. As duas inflexões partem do pressuposto democrático de que ninguém detém a propriedade da verdade absoluta e permite, não somente a participação de pesquisadores ou pensadores referidos à Marx, mas de outros que não realizaram esse percurso crítico à exaustão, mas que realizam pesquisas e produzem conhecimento crítico do mundo fetichista, assim mesmo. Uma das principais virtudes de Marx foi ser capaz de “aprender”, inclusive com seus “inimigos”. Este deve ser um critério muito importante para ser aplicado por “pareceristas”. Precisamos reler os clássicos. Mas esse esforço só será consequente se novos conceitos surjam e sejam capazes de apreender fenômenos novos da sociedade em crise ou de sua gênese histórica, ajudando a todos no trabalho de aglutinação e disseminação, ainda que localizadamente nos setores avançados, dessa ciência crítica. Sem dúvida, nem Marx, nem os “clássicos” explicaram todos os fenômenos da modernidade capitalista, nem da história anterior, nem suas teorias adquiriram forma acabada. Nesse sentido persiste uma confusão entre doutrina e ciência social. Marx não foi um arauto de uma doutrina. A ciência criada por Marx por ser de uma crítica totalizante, ultrapassa inclusive o horizonte social, incorporando as questões da natureza e do universo, sem renunciar em momento algum à sua dimensão ética e estética. A doutrina, portanto, não terá serventia para um novo projeto editorial. Não pode existir crítica social e natural consequente das condições atuais do mundo e de sua gênese sem liberdade absoluta de crítica, ao mesmo tempo anti-manipulatória e anti-criticista. Sem dúvida a teoria é uma prática e sua competência se acha indissociável de sua ética libertária. Trata-se aqui de uma questão inarredável e qualquer tentativa de buscar as melhores tradições dos movimentos sociais que não consiga superar esta questão fundamental estará fadada ao fracasso! A democracia interna não pode ser formal. Precisa ser socialista, pois. O respeito à pluralidade partilha confiantemente a responsabilidade social com os agentes construtores da Revista. O princípio de eleição dos pares deve ser completado por uma sorte de revezamento o que evitaria o CARÁTER apenas CONSULTIVO do Conselho Editorial. A crítica ao capitalismo não tem quer se feita apenas por acadêmicos, nem por militantes. Estudiosos engajados pensam também e, não raro, muito bem. Felizmente qualidades de cognição e de exposição se acham estendidas pela natureza a setores sociais bem mais amplos. Tal procedimento acaba com uma estandardização entre Membros Editores, Conselho Editorial e de Base, e viabiliza a construção de uma Revista Nacional através de uma maior divisão de trabalho que se ampliará ainda mais com a sua transformação numa revista digital".
Luciano MARTORANO "A pergunta acima talvez pressuponha um debate franco e aberto sobre duas questões preliminares: a) "o que é teoria" e b) "o que é marxismo" ? Sem esse debate não se pode criar uma base mais sólida para um trabalho editorial mais profícuo, à altura dos desafios contemporâneos".
Claus GERMER "Não acho fácil a resposta a esta pergunta. Mas tenho alguns palpites. Primeiro, pensando academicamente, parece que quanto mais revistas marxistas houver, melhor. Mas e daí? ... Como seria uma revista teórica marxista, digamos, 'ideal'? Penso na 11ª tese sobre Feuerbach: "Os filósofos têm apenas interpretado omundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo". Transformar é uma atividade prática. Então traduzo isso como 'interpretarpara transformar', ou seja 'teorizar e praticar'. Parece-me difícil pensarque se possa teorizar para a transformação sem praticar para a transformação. Mas a transformação é um conjunto de problemas práticos:organizar para a transformação, mas organizar quem? como? onde? quando? começar por quem, como, onde, quando? Portanto, teorizar não seria só teorizar sobre os problemas práticos, mas resolver os problemas práticos com base na boa teoria. Ou seja, para transformar é preciso já estararmado com a boa teoria. Mas qual é a boa teoria? O marxismo, ora bolas! Mas qual marxismo? Grande confusão: há muitos marxismos, até demais, o que significa que não há nenhum. Então parece que é o marxismo cuja teoria aponta para a transformação, não apenas teorica e retoricamente, mas praticamente. Convocar congressos para selecionar o 'melhor marxismo'? não funciona...Quando o marxismo estiver de fato ligado aos problemas práticos, a prática irá selecionar o marxismo que os resolve. A prática é indispensável para o próprio aprendizado da boa teoria, da que combina com a realidade prática.O resto talvez seja academicismo... Consequentemente, a boa teoria é a que resolve os problemas práticos com rigor teórico. A prática não é o critério da verdade? Daí só através da prática enriquece-se a teoria, uma vez que o conhecimento emana da atividade prática (outra das teses).Desligado da atividade prática, é só repetição, repetição, repetição ... Pesquisa empírica! Mas pesquisar empiricamente o que? onde o critério parao quê pesquisar? Novamente, depende do que a prática indica ser necessáriopara avançar. Então a pesquisa empírica também necessita da prática paraindicar o caminho, apontar o que é relevante. Discussão teórica não é discutir a teoria com a teoria, fazer exegese, darvoltas ao próprio umbigo, mas é discutir a teoria como instrumento pararesolver os problemas práticos da transformação. É a prática que indica quais são os problemas que exigem solução. Acho que é o que concluo da 11ªtese, salvo melhor juízo...Daí tenho a impressão de que uma revista teórica marxista que contribuanessa direção, isto é, que contribua para desenvolver uma teoria que sejaa expressão da verdade emanada da prática, da nossa prática, é uma boa,muito boa...Um bom começo seria colocar em discussão o que significa, neste momento, unir a teoria à atividade prática, à transformação, por que meios, etc.Por ora são estes os meus melhores palpites! Isto, creio, daria um impulsoà teoria, e talvez à própria atividade prática!"
Danilo MARTUSCELLI "Uma revista marxista deve fomentar uma relação orgânica entre Comitê e Conselho Editorial, constituindo em seu funcionamento o mandato imperativo e temporário dos membros do Comitê. Tal medida poderá fortalecer sua democracia interna e ser um forte instrumento de luta contra o princípio meritocrático que rege a maioria das revistas acadêmicas. Uma revista marxista deve priorizar a publicação de textos teóricos, não-dogmáticos e que estejam pautados pelo princípio leninista da "análise concreta da situação concreta", a alma viva do marxismo. Uma revista marxista deve dar abertura para a publicação de análises de conjuntura desde que estas não se confundam com o jornalismo vulgar e com as crônicas superficiais do cotidiano. Uma revista marxista deve abolir a seção resenhas que mais servem para fazer propaganda para o mercado editorial do que trazer à tona uma reflexão crítica sobre a obra resenhada. Nesse sentido, a seção Comentários ou Ensaios bibliográficos podem tornar-se um importante espaço para a discussão das obras recém-publicadas, desde que o autor faça ligações com o "estado da arte" da temática em questão. Isso significa que em vez de priorizar o mercado editorial ou o culto do autor que acabou de lançar um livro, a revista deve dar centralidade à discussão do tema abordado pelas obras recém-publicadas. Uma revista marxista deve publicar sistematicamente dossiês sobre as questões palpitantes de nosso tempo, convidando quatro ou mais colaboradores para discutir uma temática escolhida pelo Comitê após consulta ao Conselho. Uma revista marxista deve abrigar um espaço para cartas e réplicas aos textos publicados, fomentando, assim, o debate teórico e político entre os marxistas, inclusive as autocríticas. Uma revista marxista deve reivindicar o marxismo, seja no próprio título, seja nos documentos de fundação. Caso contrário, pode se transformar num mero instrumento de gozo intelectual e sem rumo político algum".
ALDO DURAN GIL "“Uma revista que pretenda se autonomear marxista deve, primeiramente, defender a sangue e fogo, na prática e na teoria, o programa socialista – isto é, (i) socialização dos meios de produção e (ii) destruição do Estado burguês. Bem entendido, a revista não pode substituir os partidos políticos revolucionários/socialistas e anti-capitalistas nem os movimentos populares que defendem o programa socialista. Deve, isto sim, buscar fornecer ou subsidiar teoricamente tais setores para possibilitar a realização desse programa. Em segundo lugar, não deve praticar a democracia burguesa, mas a democracia socialista. Defender a democracia burguesa é praticá-la, e praticá-la é justificar e legitimar a reprodução das relações de produção capitalistas que têm caráter classista, hierárquico, autoritário e despótico. No discurso, o democratismo burguês é hegemônico, inclusive na lábia dos autodenominados marxistas – que de forma oportunista num foro defendem ou gritam “democracia” e noutros foros praticam o contrário – isto é, o autoritarismo e despotismo; em termos correntes, essa prática pode ser designada com aquilo que denomino “coronelismo acadêmico”, uma variante do fetichismo do poder constitutivo da pequena burguesia e da classe média que monopoliza o aparelho estatal escolar/universitário. O monopólio da gestão de uma revista por parte de um grupo ou grupelho “iluminando” autonomeado e com privilégios é a conseqüência da prática da democracia burguesa. O que acaba por reproduzir as estruturas de poder na sociedade capitalista e, sobretudo, reproduzir o Estado burguês (especialmente o aparelho escolar\universitário etc.). Importa, pois, praticar a democracia socialista e destruir o Estado burguês. Em terceiro lugar, deve combater e buscar superar o produtivismo da esfera acadêmica universitária, constitutivo da ciência ou da prática científica no capitalismo; no atual caso brasileiro, o produtivismo acadêmico chegou a níveis absurdos e perversos. Prática essa imposta pelo capital e corroborada pela burocracia estatal (aparelho escolar\universitário, que inclui o conjunto de agência de fomento, como Capes, Cnpq etc.) comprometida com ele. A concorrência acirrada entre cientistas e filósofos por um “prato de lentilhas” (recursos econômicos, bolsas, quebra da dedicação exclusiva etc.), com o reforço da meritocracia, é a moeda corrente na lógica desse produtivismo. Ora, uma revista autonomeada marxista comprometida com a reprodução do produtivismo acadêmico capitalista (“produtivismo marxista”) não tem razão de ser, é uma flagrante contradição - não serve para os propósitos da construção de uma sociedade socialista. Por fim, uma revista autonomeada marxista deve fazer jus a seu próprio nome: combater a divisão social do trabalho capitalista; deve buscar a criação das condições de superação dessa divisão atacando principalmente aquilo que compete a uma revista marxista: a superação da divisão manual e intelectual do trabalho. Todavia, deve buscar compatibilizar teoria e prática, discurso marxista e prática marxista. Caso contrário, uma revista autonomeada marxista que não mantém minimamente esses quatro pontos ou perfis supramencionados, deveria abandonar sua pretensão marxista e passar a praticar uma crítica kantiana, hegeliana, liberal ou crítica religiosa".
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
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